quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Sabe de uma coisa?
Como é que o peixinho namora a peixinha? Estou aqui, na madrugada, bebendo água em um copo cheio de peixinhos e não estou vendo nenhum fazer nada de amor. Vou ficar observando... Se eu ver alguma coisa, eu lhe aviso antes de você dormir.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Mulher de verdade

Tem sangue no olho
Bala na agulha
Nobreza
Unhas vermelhas
Cabelo de ló
Cheiro de quero mais
Mãos de fada
Boca macia
Andar elegante
Sorriso teimoso
Jeito misterioso
Acorda com fome
Olha pedindo
Brinca com a voz
Voz de denguinho
Voz de mulher fatal

(alterado em 10.03.12)

domingo, 28 de outubro de 2007

Outdoors

A prefeita de Amarolândia escreveu uma mensagem e espalhou em outdoors por toda a cidade:

"Eu não lhe escolheria se você não tivesse competência para assumir cargo tão importante na minha vida. Você é até símbolo das minhas calcinhas... Queria te ver feliz, mas para isso você precisaria andar comigo 24 horas por dia. Você nem sabe o que faz! Devia deixar eu decidir tudo... Eu nem acredito que você possa ser feliz longe de mim, só dentro de mim, bem dentro de mim... Mentira sua que finge ter paz em mundos onde eu não estou."
Sobre a lata do lixo

Assim que eu cheguei do Rio de Janeiro a Teresina (eu tinha uns dois anos), minha mãe ia trabalhar, e eu não me conformava com a quebra do cordão umbilical. Quando ela saía de casa, era aquela confusão. Eu chorava desesperadamente pra ela ficar. E não eram uns snif, snifizinhos não, eram uns buaaaaaaaá, buaaaaaaaaaaá’s escandolosos. Hoje, pensando bem, inteligente seria se eu voltasse a minha personalidade geniosa, esperta e dramática de antigamente.

Naquela época, eu acabava com a minha garganta... (Ai que dó da minha garganta agora!) Eu esgoelava, esgoelava, esgoelava... e saía correndo pelas ruas perto do Restaurante Dona Maria, no Jóckey, onde foi a minha primeira casa em Teresina. Eu sabia fazer chantagem também ficando sem comer, eu era um terror... Tudo pra ela voltar pra mim...

Num dia das minhas insistidas, eu desmaiei no meio da rua. Pluft! E advinha quem me salvou? Um bendito carro de lixo que passava bem na horinha. (Diziam os meus irmãos mais velhos que eu fui achada dentro de uma lata de lixo. Eu passei minha infância tendo que ouvir isso. Eu morria de rir por dentro, achava muito engraçado, mas fazia cara de mau pra não dar o braço a torcer.)

Foi nesse dia que o meu plano infalível deu certo. Minha mãezinha boazinha pediu demissão do emprego pra ficar colada em mim o dia inteiro. Tudo bem que trabalhar é bom, mas cuidar de uma fofurinha que nem eu devia ser muito melhor, não é mesmo?

Agora, aos 25 anos, não sei mais o que é fazer escândalo. E até que fiz alguns na minha adolescência. Aliás, nem sei se passei por isso, acho que de criança virei mulher. E mulher não chora, nem arrisca as cordas da voz, nem grita correndo pelas ruas, muito menos sai desmaiando por aí a fora. Mulher de verdade engole seco, tem sangue no olho, não sente medo, sabe que dentro dela tem um escudo de ferro. Mas mulher de verdade só quer um guerreiro pra detonar esse escudo de ferro idiota que ela insiste em guardar com ela.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Eu não lhe contei

Que você nem conheceu a minha avó. Dona Chiquinha tinha os olhos azuis, a pele branquinha, cabelo feito espaguetes, compriiiidos. Ela era um amor de gente. Diziam que eu tinha sido achada numa lata de lixo, mas quando eu vi aquele riso pela primeira vez tive a certeza de que o meu sangue circulava na veia dela. Um sangue simples, de cor vermelha mesmo, um vermelho vivo, de gente que quando nasceu olhou no dicionário o significado de gente, gente que não encontrou o significado da palavra maldade, gente que nem precisava perdoar porque não se sentia ferida por nada, gente que só de olhar não precisava dizer ‘eu te amo’, gente que se escondia feito menina pra ajudar. E eu tinha um namorado que todo mundo dizia que ele era feio, e ela botava a mão no queixo e dizia que ele era lindo. Ele é liiiindo! Minha avó era aquele tipo que não precisava dizer nada pra dar conselhos, bastava olhar pra ela. E hoje depois de tantos anos chorei lembrando dela. Dei a minha vez pra todo mundo, agora é a minha, só minha. E se ela estiver aqui do meu lado agora, ela sabe que eu já dei um monte de tropeços, mas no todo eu só quero ser um pedacinho do bolo doce que ela deixou aqui.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Ao vivo

Quer jogar de amor?
Cuidado que vai ter transmissão

Teu jogo é penetrante,
Escaldante
Ou pura afobação?

Vivo o teu vivo
Vive a minha viva
E quem não mais quer esse vidão?

Nesse jogo
Eu não brinco
Nem faço improvisação

Sente cada suspiro
Cada sorriso
Cada comemoração

Nesse jogo eu sou forte
Eu vivo da diversão.
Libertina

Sorriso debochado
No meu Corcovado

Não quero perguntas
Nem exclamação

Se não te possuo nas mãos
Também não ocuparás o meu chão

O meu céu é perfeito
Só quero voar pelo sertão

De pára-quedas ou balão

O que importa é respingar emoção.

domingo, 14 de outubro de 2007

Recado de geladeira

Meu amor, nesses dias em que eu estarei longe, não esqueça de tomar todas as noites as suas doses de beta-resulvômetro.
E antes de ir dormir, ao acordar, depois de tomar café, antes e depois do almoço, na hora do cafezinho da tarde, depois do jantar e na hora do banho, lembre-se que eu adoro muito você!
Beijinhos da sua mulher!
Concurso V (Exclusivo!)

As inscrições para o concurso de Amarolândia foram suspensas. A decisão foi tomada neste sábado (13), durante o sono da prefeita do município. A assessoria de imprensa marcou uma entrevista coletiva para as primeiras horas do dia, mas só a repórter de política do blog ‘Amor aos Montes’ compareceu. A ausência dos outros jornalistas se tratou de um boicote. Todos queriam dar uma resposta malcriada à prefeita que vinha demonstrando ao longo dos meses preferência ao “Amor aos Montes”. A prefeita não estava a fim de falar muito mesmo e então adorou se pronunciar para uma repórter só.

Pois bem, vamos aos fatos:

A executiva municipal informou que a suspensão do concurso seguirá até que o ex-detento consiga retirar a algema prateada da mão direita. “Infelizmente não posso ajudá-lo nesse desafio, pois estaria sendo cúmplice de uma fuga. Isso atrapalharia a minha reeleição. Arriscaria muita coisa por ele, mas não posso abandonar o meu povo”, esbravejou a prefeita.

Ela revelou que sentia uma dor apertada sempre que ele tocava o rosto dela. A algema pendurada arranhava cada curva do corpo. A prefeita chegava a fechar os olhos imaginando um ferrageiro pondo um fim naquele objeto horrível. Mesmo louca por ele, a prefeita ratificou que não vai telefonar para nenhum funcionário ou eleitor que possua a máquina capaz de quebrar o ferro.

A prefeita vai se licenciar. Quer se afastar de todo e qualquer problema durante uns dias. Ela quer viajar. Deseja ouvir o silêncio. Toques? “Só o do vento no meu cabelo”. Troca de olhares? “Apenas com o próprio espelho”. E quem vai observar a sua pele macia? “O mar deserto”. Quem vai mergulhar no seu sorriso? “Só quem já for invisível”. E as palavras? Quem vai ter o prazer de ouvi-las? “Alguém que estiver perdido na areia”. E o som que escorre por sua respiração? “Só na imaginação dele”. Isso é um castigo? “Não, espaço para os pensamentos”. E vocês vão sobreviver separados? ... (ela parou por um instante e deixou uma lágrima escorrer pelo canto do olho). “A entrevista acabou” – interrompeu a assessora.

domingo, 7 de outubro de 2007

Concurso IV (EXTRA! EXTRA!)

O candidato que passou alguns dias preso na delegacia da cidade vizinha conseguiu fugir na noite deste sábado. A roupa verde dele rasgou, e ele saiu nu pelo matagal até chegar a Amarolândia. Ofegante, diminuiu a velocidade dos passos ao reconhecer a casa da prefeita. As ruas estavam às escuras. Um som sutil de televisão zoava pelas brechas das janelas da Casa Oficial. Ao ouvir sussurros, a prefeita pediu pra que desligassem a TV. Do outro lado da rua, era ele, carregado de ansiedade e cansado de tanto correr... A executiva municipal logo percebeu que se tratava do candidato que tanto esperava. E ele, ao vê-la, aproximou-se de mansinho e rasgou as palavras que há tempos entupia a garganta: “eu sou louco por você. Não consigo mais esconder isso...”. A prefeita sabia a resposta, mas naquele momento só queria sentir por todo o corpo aquelas palavras. Queria sentir cada pontada, cada picada. Estava gritando por dentro e sem nenhum barulho por fora. Uma dor que não doía, nem se descrevia. Inteligente que só ela, preferiu responder com a transferência de pensamentos. Apaixonado que só ele, entendeu direitinho, e pediu, também através de transferência de pensamentos, que ela soasse aquelas palavras que ele acabara de entender. Ela que é só ela, atendeu prontamente ao pedido, e disse via palavras que era louca por ele também.
Desafio

Nessa brincadeira
que não tem mais fim
você é o rei
e eu o jardim

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Indiferença

Esse poema não é pra ninguém
a não ser pra mim mesma
não escrevo mais pra ninguém
só pra mim mesma
e ninguém mais.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Em dias quentes, de muito sol...

Se AUGE fosse com “L”
Não precisaria do “E”
E o que você quer?

Nada de mais
Nada de menos
Só queria sentir o teu vento.

Concurso III

A amiga Francilene Oliveira (quem está concluindo especialização em Jornalismo Literário em São Paulo) falando sobre o concurso do município de Amarolândia:

- Estou ansiosa para ver o que vai dar... rsrssrsrs. bjs.

A detetive que acabou de entrar no curso do Movimento Brasileiro de Alfabetização Amorosa, ministrado no lugarejo conhecido como Encanto dos Bobim:

- E eu também... Fontes confiabilíssimas informaram que a prefeita não vai mais prorrogar as inscrições. Com o meu faro de detetive andei descobrindo também que aquela delegada (de pouca capacidade técnica-amorosa) do município vizinho não deve deixar o candidato preso por muito tempo. Caso ela não desista da prisão e se ele não conseguir fugir a tempo de efetuar a inscrição, a prefeita pretende dar um grande desfecho para essa história toda. Tive a oportunidade de conhecer a prefeita de perto. Vi que ela estudou na Sorbone, tem doutorado em Ciências Amorosas, e está "comendo" livros para o seu pós-doutoramento. Só não descobri qual é a tese. Deve ser algo do tipo: as aplicações conceituais do amor no cotidiano de uma gestora pública à procura de um servidor-padrão.