segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Por que “O Caçador de Pipas” mexeu tanto comigo?

Falo do filme. Não do livro, ainda. Primeiro, na cena mais linda, Hassan (o garoto simples, humilde e amigo – nas verdadeiras concepções destas palavras) parece extremamente comigo. Fiquei orgulhosíssima dele. Ao mesmo tempo, senti uma vontade irracional de agir ao contrário, como nunca antes. Senti uma necessidade incontrolável de revidar. Revidar contra as questões mal resolvidas.

Geralmente, quando tratava de assuntos de amor, ou de amizade, só engrossava os meus músculos da paciência. O meu “eu” paciente estava ficando cada vez mais forte, intocável, inabalável. Ora esse “eu” era matemático, ora astrológico, ora ele sabia até calcular as linhas do tempo.

Este “eu” se sentia extremamente feliz. Até esse “eu” ver o Hassan, naquela cena inesquecível: sentado embaixo de um pé de romã, ele dá a boa nova a Amir que está aprendendo a ler, está começando com histórias para crianças; num olhar perfeitamente amigo, conta que as histórias escritas e contadas por Amir são muito mais divertidas.

Com uma romã na mão, Amir começa:
- O que você faria se eu desse isso na sua cabeça?
- O que você faria?
Amir jogou uma romã no peito de Hassan. A fruta vermelha escorria no corpo.
- Bata em mim! (e acertava outra)
- Revide! Revide! (e mais outra)
- Você é um covarde!

Hassan, numa atitude heróica e demonstrando um caráter indescritivelmente admirável, pega uma das frutas no chão e a esfrega na própria testa. O meu rosto derreteu em lágrimas nessa hora. Hassan não se defende, só ama, só é leal, só perdoa. Os Hassans nunca maltratam ou ofendem seu melhor amigo, mesmo com os vários sinais de fraqueza e covardia dos Amirs.

Hassan não via nenhum sinal ruim em Amir. Amir não tinha defeito. Se tinha, pouco importava. Porque Hassan só sabia amar Amir. Nada mais. E eu deveria ter seguido os passos de Hassan.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Maktub.

Um plano. Um alô. Um calafrio. Uma voz quente. Suave. De mulher. Ele nunca tinha ouvido antes. O que era aquilo? Um terremoto. Uma vontade. Um caldeirão. Imaginação. Curiosidade. Que mulher era aquela? Outro alô. Um desejo. Um encontro. Uma surpresa. Uma tensão. Mais vontade. Dois olhares arquitetônicos. Uma apresentação. Dois sorrisos. Um negócio a tratar. Outra vontade. Uma gentileza. Dois sorvetes! Uma mesa redonda. Um monte de gente invisível ao redor. Dois corações. Negócio fechado! Um convite. Um acordo. Uma carona. Uma conversa. Demorada. Engraçada. Inteligente. De descobrimento. De coincidências. De trocas. De primeira, segunda, terceira... intenções. Um sentimento irresistível. Desejo de desviar o caminho. Entrega, anunciada no pensamento dos dois. Um “obrigada!”. Uma despedida. Mas eles queriam tudo. Pés. Cabeça. Alma. Tudo!

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Luís

Quando criança, eu era branquinha, do nariz afilado e o cabelo curto cheio de cachos dourados. Parecia um anjinho de tão gente boa. Aos 10 anos, me furtaram o primeiro beijo, foi atrás da escola. Senti-me invadida, enganada e tive vontade de denunciar na delegacia mais próxima. Ao mesmo tempo, gostei da iniciativa do menino. Menino danado! Aquilo me fez sorri depois. Guardei o segredo como quem guarda a vontade de quero mais. Na verdade, na hora, fiquei completamente sem graça. Em seguida, desejei correr atrás dele e me vingar. Tascaria outro beijo nele. Dessa vez, na frente de todo mundo, só pra matar ele de vergonha.

Um adulto apareceu segundos depois, e eu tive que conter aquela confusão de sentimentos. Na realidade, fiquei com raiva por dois motivos: um, porque eu gostava de outro menino, o mais danado da escola, ele era uma pestinha, e nos meus sentimentos mais íntimos queria que ele tivesse furtado o meu primeiro beijo; dois, porque fiquei com medo dele saber do furto e não querer mais um beijo meu, nem furtado, nem negociado, nem dado de coração.

Fiquei com medo de me tornar uma menina desinteressante, porque os lábios já tinham sido tocados. Tive medo de perder a atenção do menino mais legal da escola. Ele vivia suado e sujo. A gente adorava brincar de correr um atrás do outro. E eu adorava quando a gente caía junto no capim do campo da escola.

Nós dois disputávamos o título de mais danados do colégio, ele, na categoria masculina e, eu, na feminina. A diferença era que ele não se controlava tempo algum, e, eu, quando entrava na sala de aula me transformava. Não era dissimulação, não. Tinha uma sede angustiante de aprender. Cada vez mais e mais. Além disso, adorava ter o amor das professoras. Não abria mão disso por nada no mundo. Muito por ser leonina, não conseguia respirar sem me suflarem os elogios.

Engraçado que o nome dele era Luís. Eu achava lindo esse nome: Luís. Luís! Bonito, não é?

O tempo passou e eu nunca mais vi o Luís, mas antes dele desaparecer completamente da minha vida, ele me tascou um beijo, naquela parte mais sensível do rosto. O coração, coitado, foi a mil. Mas eu, menina boba, passei a mão direita na boca rapidamente, para ele nem de leve pensar que eu tinha ficado doidinha pelo beijo dele, por mais um, dois, três... quantos ele quisesse dar. Naquela hora, fui embora pra casa. Ele pra dele. E nosso beijo suado nunca mais se encontrou. Era o último dia de aula.

domingo, 13 de janeiro de 2008

Os Homens São de Marte... e é para Lá que Eu Vou

Os homens sempre dão uma empinada na nossa vida. É só saber escolher. Nem que ele não dure mais do que uma semana. Duvida? É só entender a canetada de mestra de Mônica Martelli (já explico quem é. A foto dela está aí em cima). Ela, depois de passar mais de 30 anos rotulada como a fracassada da família, decidiu escrever despretensiosamente sobre suas aventuras amorosas e sexuais. Texto que acabou dando no monólogo “Os Homens São de Marte... e é para Lá que Eu Vou”, uma febre no Rio que agora vai virar filme e já pensam em transformá-la em série de TV.

É só uma tragicomédia simples. Mônica estava solteira na época e teve coragem de dizer o que muita gente esconde nesses tempos modernos: a mulher precisa de um homem para ser feliz. Pode até doer como um chute no que tem debaixo das calçolas das feministas, mas não é nada mais do que uma antiga verdade. Ora, qualquer mulher que tem a feminilidade encravada na pele vai preferir assistir a um filme agarradinha com o seu amor a assistir sozinha. Ou não é? Claro que tem horas que a gente quer ficar só, mas só umas “horinhazinhas”!

E é mais divertida a vida de solteira ou a de compactuada com um amor? Ai, ai, ai... Digo que numa noitada solteira a gente brinca, dança à vontade, fala barbaridades, canta no carro com a amiga mais maluca que a gente tem, dá gargalhadas incontroláveis e, no final, sabe que não vai ter nenhum beijinho. E na manhã seguinte, sabe que vai acordar com o corpo coberto por uma camisola. E não tem nem perigo de levantar sem ela. Só se sofrer de algum distúrbio durante o sono.

E a empinada na vida das mulheres que os homens dão? Um exemplo é da própria Mônica Martelli. Ela cursou Direito e não terminou; concluiu Jornalismo e não vingou como jornalista; participou de várias novelas da Globo e em todas as vezes ninguém ouviu sua voz. Até que conheceu Jerry, quando ele estava em São Paulo produzindo um show do Ed Motta. Mônica pensava que ele era gay. Quando Jerry disse que era hétero ela se apaixonou na hora. Pouco tempo depois, foram morar juntos. Jerry passou a produzir a vida de Mônica. Ele logo botou a mulher para tirar os textos dela do papel para o computador. Digitadas as histórias, depois dos empurrões do marido, Mônica jogou o negócio pra frente e estreou a peça. Fez sucesso e agora, como disse no início, vai virar filme. Hummm... vai uma empinadinha aí? Só se for com pipoca, e pra dois.

Obs.: Não assisti ao monólogo, escrevi esse texto com base em uma reportagem da revista Marie Claire deste mês.

sábado, 12 de janeiro de 2008

Procura-se II

Quem sabe da palavra?
É segredo?
Mas que letras são essas?
É mistério?
Alguém ao menos já ouviu falar?
Queria ser craque no jogo da forca
Alguém conhece um?
Um craque na forca
Eu conheço
Em troca de que ele me revelaria?
Sobre as picuinhas e as histórias apimentadas

Detesto as picuinhas mundanas. Sou extremamente mal educada com elas. Viro as costas e me finjo de morta diante delas. Às vezes, dou gargalhadas pra elas. Depois esqueço e não dou trela nenhuma. Sou uma grande decepção para os inimigos. Eles não têm a menor chance comigo. Só vejo pessoas amigas ou pessoas burras que querem trocar uma amizade por um belo prato de fofocas quentinhas ou requentadas. Para estas pessoas peço desculpa pelo meu mau jeito, mas não consigo deixar de desprezá-las. Passo a régua sem dó, com a maior frieza do mundo.

Consumindo a vida assim, achava que não existiam novelas com a minha pessoa. Pois não é que existem? E várias! Cada qual mais cinematográfica do que a outra. Claro que na minha sala de projeção elas são barradas completamente. Não divulgo nada, nenhum resuminho. Só sinto pena por um instante e depois lembro que a maioria das pessoas ainda não sabe apreciar seus próprios filmes e não consegue viver sem jogar pimenta na história dos outros.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Procura-se

Uma palavra
Uma palavra
Só uma palavra
Eu não acho
A palavra
Mas que palavra é essa?
A palavra
Pra te levar pra casa.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Sobre o amor

Pra mim, o mundo anda maluco e a cada dia acho que não entendo mais nada sobre o amor. E na semana passada, vi dois casais amigos brigarem. Duas amigas sofriam e eu nem me aproximei porque acho que não sei mais de nada, não sei mais dar conselho, não quero mais nem dar nem receber conselhos, pelo menos por enquanto. Acho que o mundo está muito maluco mesmo. E eu estou ficando maluca também. Ora eu quero ficar gostosona, bronzeada, ora eu me acho linda branquinha. Ora eu quero ficar na minha, quetinha.
O certo é que não sei mais o que é certo nem o que é errado. Ora me dizem: - eita, mulher difícil! Já noutras horas sou a mulher mais fácil do mundo (pra uma pessoa só, claro!). Continuando os oras: ora acho que sou independente e sei muito bem viver sozinha, ora sei que sou completamente dependente de um amor ou de uma grande paixão, daquelas ardentes das quais a gente faz tudo, se abre completamente, sorri escancaradamente, daquelas que a gente sente-se totalmente livre e depois uma repleta prisioneira, ou daquelas paixões que a gente sente um prazer intenso até numa curta lembrança.