terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Sobre "contato imediato" entre outras coisas

Isso não é bem uma música. É um veludo fazendo carinho bem de mansinho no ouvido. De um lado, depois do outro. Todo macio, olha bem fundo nos olhos. Arranca a alma. Sem triscar um dedo. Não sai uma lembrança de dor. Vai assoprando o meu rosto. Hálito com cheiro de paz. Encosta nos cílios. Enxuga, leve, meus olhos. E faço cara de quem vai explodir. Minha garganta ferve. Desce lá pro peito. Tá um vermelho lindo, como nunca em vida ninguém viu. E jorra um sangue bom, limpo, puro. Vai escorrendo, molhando o interior do meu corpo. Deslizando sem pressa. No estado absoluto da calma. E vai invadindo meus poros. Arrepia meus pelos. E vai visitando meu corpo todo, como quem não precisa tocar. Como quem sabe que a gente vai ser só um sempre. E sentir o outro a todo instante, sem toque, como se tivesse longe. Porque no nosso mundo a noção de espaço é diferente. A gente sempre vai estar no mesmo lugar. Mesmo que ninguém veja nada do que a gente vive. A nossa vida sempre foi assim. E às vezes a gente teve que se separar. Como cada um pro seu lugar. Como se a distância existisse. Às vezes, você se perdeu de mim. Mas eu sempre estive lá, quando você chorou, quando você mais precisou. E eu chorei junto com você, sem poder dizer nada. Só ardia o meu rosto, tentando levantar o seu. Com uma força segurando o meu som. Mas eu sempre vi você, sempre senti você, sonhei com você, dormi, acordei, reparti cada pedaço de mim, com você.
Contato Imediato