sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Conversa entre borboletas
Duas borboletas se reencontram depois de vários meses de separação:
- Ué, cadê a sua outra asa?
- Não sei, eu perdi, desde a última vez que lhe vi.


A borboleta fêmea, preocupada com o macho sem uma das asas:
-Vem cá, e quem estava lhe orientando nesse tempo todo?
-Ué, borboletas amigas que eu ia encontrando pelos jardins...
-Pelo visto suas amigas mal conhecem as palavras...
-Ué, mas eu cheguei até aqui, não cheguei?
-Chegou, mas você não tem idéia em quantas flores eu sozinha posei.

O macho respira pensativo.
E a fêmea muda rapidamente:
-Mas vem cá logo, homem, que eu tenho que devolver sua asa.

domingo, 12 de outubro de 2008

Conjugação do verbo fazer (falta)

Eu faço
Tu fazes
Nós fazemos

Conjugação do verbo matar (saudade)

Eu mato
Tu matas
Nós matamos

Conjugação do verbo responsabilizar

Eu não me responsabilizo
Tu não se responsabiliza
Nós não nos responsabilizamos

Conjugação do verbo resolver (nosso problema)

Eu resolvo
Tu resolves
Nós resolvemos

Conjugação do verbo levar (a sério)

Eu não levo
Tu não levas
Nós não levamos

Sobre o verbo prender

Ninguém prende o que é meu porque o que é meu eu só empresto porque o que é meu se prendeu em mim desde o dia que me viu e me desamarrou e me desvendou e me desclausurou e arrancou todos os meus cadeados, um por um, e desde esse dia nem eu nem ele nunca mais quer ver o sol nascer quadrado.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Quelqu'un M'a Dit
(Carla Bruni)


On me dit que nos vies ne valent pas grand-chose,
Elles passent en un instant comme fanent les roses,
On me dit que le temps qui glisse est un salaud,
Que de nos chagrins il s'en fait des manteaux.
Pourtant quelqu'un m'a dit que tu m'aimais encore,
C'est quelqu'un qui m'a dit que tu m'aimais encore,
Serais ce possible alors ? (refrain)
On me dit que le destin se moque bien de nous,
Qu'il ne nous donne rien, et qu'il nous promet tout,
Paraît que le bonheur est à portée de main,
Alors on tend la main et on se retrouve fou.
Pourtant quelqu'un m'a dit...
Mais qui est-ce qui m'a dit que toujours tu m'aimais?
Je ne me souviens plus, c'était tard dans la nuit,
J'entends encore la voix, mais je ne vois plus les
traits, "Il vous aime, c'est secret, ne lui dites pas
que je vous l'ai dit."
Tu vois, quelqu'un m'a dit que tu m'aimais encore,
Me l'a t'on vraiment dit que tu m'aimais encore,
Serait-ce possible alors ?
On me dit que nos vies ne valent pas grand-chose,
Elles passent en un instant comme fanent les roses,
On me dit que le temps qui glisse est un salaud,
Et que de nos tristesses il s'en fait des manteaux.
Pourtant quelqu'un m'a dit...

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Sonho
(Atenção: quem tem medo não deve ler. E quem começar a ler tem que ler até o final.)

Hoje (14/09/2008), às 23 horas, tive um sonho. Digo: pesadelo. Uma “alma” chegava e dizia: “Você não quer morrer? Então, você vai morrer agoooora!”Aí, outra “alma”, preta e bem grande, aparecia do lado esquerdo da minha cama, como se tivesse colocando alguma coisa dentro do meu coração. Ela (digo: essa alma preta) era meio violenta, ficava meio que dizendo desaforada: “Você vai agoooora e não tem mais jeito!”. Os seus movimentos eram rápidos como quem estava furioso comigo. Eu tentava gritar. Botava todas as minhas forças, explodindo ininterruptos e esperançosos “Mãaaaaaaaaaaae, me ajude... Mãaaaaaaaaaae!!!” Mas a voz não saía, eu percebia que não saía e me desesperava. Porém, eu não tinha desistido de lutar contra a tal alma preta, isso via pensamento porque ela me deixou imobilizada: “Mas você não tem motivo pra me levar. Fui dormir boazinha. Que desculpa vocês vão inventar pra dizer que eu morri?” Assim parece que “ela” desistiu. Saiu. Mas me disse (não sei como porque ninguém falava com a voz): “Pois vou providenciar essa desculpa ‘amanhã’ ou nos ‘próximos dias’”. Ponto final. Acordei apavorada, com a ameaça. Quis ir correndo pro quarto dos meus pais. Aí, um dos meus “eus” perguntou: “E desde quando você tem medo de ‘alma’?” Eu sorri. E virei pra dormir de novo.

Minutos depois...

Lembrei de anotar o sonho. Registrei (como você está vendo). Nesse intervalo veio a intuição de que morrer não é nada bom quando ainda não se é um anjo. Parece que foi um alerta. Sempre intuí que iria para outra vida cedo. Achava ótimo isso porque ia ganhar de presente um tipo de estágio de evolução mais avançado. Mas me pareceu que as coisas não são bem assim. Nesse campo, não há privilegiados. Por isso, me pareceu também que a gente deve ser minucioso em cada detalhe das nossas ações. Valeu o recado
!

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Deixa eu te conduzir...

É assim: primeiro, não precisa olhar pro chão. Feche os olhos, ponha o calcanhar direito na frente do dedão esquerdo, agora, deixe as asas em posição de decolagem. Nesse instante, não sinta medo, estou aqui, bem atrás de você. Agora, acho que já está pronto, bote o calcanhar esquerdo na frente do dedão direito. Vou vendar os seus olhos, pra não precisar se preocupar com eles. Esqueça tudo. Você pode fazer leves movimentos com a cabeça, descendo e subindo o nariz, só pra sentir o aroma da sala. Pode fazer pequenas ondas com a cabeça enquanto respira. Pode até virar pros lados, se quiser. Estou a um centímetro atrás de você. Minhas asas também estão em posição de vôo, mas não posso tocar em nada. Estou sentindo o cheiro da sua entreasas, mas não vou triscar nem a ponta do meu nariz. Agora, vou ficar aqui, parada. Você, bem de leve, vai trocar as pernas. Se der tudo certo nesse passo, pode partir pro seguinte. Sozinho. A cada passo perfeito, o som da minha voz vai se encaixotando...

(zero vírgula um segundo depois)

...O ar está ficando abafado. Não consigo mais ouvir o seu pé descolar do chão. Agora, eu vou dar um giro, bater minhas asas bem de mansinho. Se a gente quiser voltar pra esse lugar, essa sala abarrotada de coisas nossas, acho que você não vai mais se perder no caminho.

domingo, 7 de setembro de 2008

Belle Justie recebeu uma carta

Belle Justie estava na varanda do apartamento, no 18º andar. Acabara de acender o seu primeiro cigarro. Classuda, vestia camisola de seda vermelha. Despercebida, distribuía charme pro vento. O interfone tocou. Ela pediu que subissem com o envelope.

“Belle, meu amor, sinto daqui que ainda és minha. Sinto teu cabelo aveludado. O teu perfume me inebria. Meu olhar fica em fúria, desesperado sem o teu toque. Tremo até a alma por ti. Meu corpo encurva no travesseiro à procura do teu tudo. Fecho os olhos e me arrepio na lembrança dos pêlos dourados tocando de leve meu peito molhado de desejo por ti.

Meus lábios não são mais os mesmos, estão secos, feridos, brigam com os dentes, recordando do teu sopro quente. Devoro-te com as nuvens do teu cheiro, do teu gosto, do teu jeito.

Abandonaste-me tão cedo... Agora, te imploro, desesperadamente, por mais uma vez. Se não doer, peço, humildemente, na postura de servo que sou, para perdoar os meus erros e olhar-me como na primeira vez.

Querida, Belle, te suplico, piedade desse homem arrebatado de loucura por ti. Ajoelharei-me aos teus pés, depois farás tudo que quiseres de mim.”

*Belle Justie é uma personagem criada por mim, Flávia Rocha. Ela é uma espécie de mulher rara na face da Terra.

sábado, 30 de agosto de 2008

Aai...



Você disse Que não sabe "se não" Mas também Não tem certeza que "sim"... Quer saber? Quando é assim Deixa vir do coração Você sabe Que eu só penso em você Você diz Que vive pensando em mim... Pode ser Se é assim Você tem que largar A mão do "não" Soltar essa louca Arder de paixão Não há como doer Prá decidir Só dizer "sim" ou "não" Mas você adora um "se"... Eu levo a sério Mas você disfarça Você me diz à beça E eu nessa de horror E me remete ao frio Que vem lá do sul Insiste em "zero" a "zero" Eu quero "um" a "um"... Sei lá, o que te dá Não quer meu calor São Jorge, por favor Me empresta o dragão Dragão! Mais fácil aprender Japonês em braile Do que você decidir Se dá ou não...Você disse Que não sabe "se não" Mas também Não tem certeza que "sim"... Quer saber? Quando é assim Deixa vir do coraçãoVocê sabe Que eu só penso em você Você diz Que vive pensando em mim... Pode ser Se é assim Você tem que largar A mão do "não" Soltar essa louca Arder de paixão Não há como doer Prá decidir Só dizer "sim" ou "não" Mas você adora um "se"... Eu levo a sério Mas você disfarça Você me diz à beça E eu nessa de horror E me remete ao frio Que vem lá do sul Insiste em zero a zero Eu quero um a um...Sei lá, o que te dá Não quer meu calor São Jorge, por favor Me empresta o dragão Dragão! Mais fácil aprender Japonês em braile Do que você decidir Se dá ou não...

Foto do Djavan: Geórgia Benvindo, no show em Teresina, ontem.
Frase da semana: “Cinema não é sabão em pó”
É de Walter Salles, em entrevista à revista Época desta semana. Para o diretor da principal estréia do cinema brasileiro no segundo semestre (5 de setembro), o filme "Linha de Passe", as produções nacionais deveriam esquecer as bilheterias e se preocupar em retratar o Brasil.

Foto: Daniel Novaes

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

lentas e poéticas
fotos: Flávia Rocha


(Flores em Alto Longá-PI)

domingo, 24 de agosto de 2008

Mais Maria (Série Mãos)
Fotos: Flávia Rocha





Maria: a artista mais bagunçadeira do mundo




Maria Fernanda: a pintora


(A Maria Fernanda - minha sobrinha caçula - me deu um baita susto quando eu acordei hoje. Ela acabou com todas as minhas tintas, mas valeu pela bagunça e as fotos)

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

O Retorno de Belle Justie

Belle Justie anda com vontade de explodir
Ela queria comprar um trator
Ela precisa de uma luva de box
Ela finge ficar em silêncio
Mas o olhar dela grita
Ela é um exagero
O sorriso dela é um feitiço
Mas o amor dela anda contido
Só o que importa pra ele agora são coisas que pra ela não fazem mais sentido
Ela só quer ficar descabelada, subir nele e mostrar o que é uma paixão de verdade
Nada frio
Tudo quente, queimando
Ele desistiu dessas coisas que fazem de um homem um homem
E Belle Justie acha que ele andou bebendo alguma coisa.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Preciso saber se dá certo fazer ao contrário

Vejo frases de como as mulheres devem se comportar. São escritores, psicólogos, terapeutas, amigos, irmãos, dizendo o que a gente deve fazer. Esses últimos aí, então, se fosse obedecer, eu nem seria eu.

O meu irmão primogênito tem 30 anos, parece mais velho que o meu pai, com 60. Ele faz o estilo extremamente conservador, já meu pai é moderno, divertido e sabe respeitar profundamente as decisões femininas. Meu pai adora cozinhar e decorar a mesa para as suas mulheres.

O irmão do meio me vê como uma mulher futurista. Ele é um tipo conservador descolado. O olhar dele é como quem diz: “Façam o que quiserem, suas doidas!” A vida fez dele o mais experiente quando o assunto é mulher. Estudou comigo e via minhas sutis extravagâncias desde a adolescência. Hoje ele tem três mulheres... a esposa e as duas filhas. Cada uma mais cheia de virtudes que a outra. É engraçado como esse “pirralho” sabe lidar com elas. E essa mulherada é fascinada por ele, porque ele é manso, beijoqueiro, bagunceiro e é daqueles que nunca diz não pra ninguém.

O psicólogo norte-americano Steven Carter escreveu o livro “Homens gostam de mulheres que gostam de si mesmas" (Ed. Sextante). Não lerei, nem indico, só vou comentar. Até porque ele mesmo disse: “Não se esforce demais para descobrir o que os homens querem. ¹”

Depois, Carter fala: “As mulheres inteligentes sabem quem são e o que têm a oferecer ²”. “Não aceitam nada menos do que merecem ³ e não oferecem nada rápido demais”. Só aí são quatro questões, complexíssimas, apesar de parecerem óbvias.

Quanto à segunda frase, podemos até dizer: “Sei de algumas das minhas qualidades, alguns defeitos, sonhos, fomes, sedes, filmes preferidos, mas, quem sou eu? Alguém assopra aí, por favor! Depois, o que tenho a oferecer? Uma fortuna. Sou herdeira de pais riquíssimos... de adjetivos. No entanto, as coisas que formam a minha herança interessam a quem? A um monte de gente? Mas quem seria tão bom pra dividir?

E quanto ao “não aceitam menos do que merecem”: o que eu mereço? Promessas de paixão eterna? Um namoro com seguro de vida? Ou só uma noite de amor sensível? Tem alguma coisa melhor ou pior aí?
Já a última frase doeu: “Não oferece nada rápido demais”. Tudo bem que o que é demais estraga. Mas, peraí, na velocidade quem manda somos nós. O guru principal é o nosso desejo. É repugnante contrariar a nossa vontade, ou usar o freio ou o acelerador dos outros. Quem governa o meu carro sou eu, doa a quem doer, inclusive se esse quem for eu.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Nos meus 26, aprendi a correr

E adoro ficar quieta, silenciosa, mexendo só com o olhar
Sentir o néctar das extravagâncias, das esquisitices alheias
As inquietações, as dores, as dúvidas e os tropeços.
Adoro ouvir a turbulência ou o nada da multidão.
Gosto de ver tudo, qualquer coisa que me fure o peito,
arranque a alma ou destrua tudo que antes domava minha opinião.
Porque quem sorri, chora aos prantos.
Quem tem um ataque de nervos, só queria o silêncio.
Quem canta, queria explodir em alguém.

E há coisa mais linda do que ser ridículo?
Adoro o ridículo. Porque o ridículo é verdadeiro.
E quem não quer ser verdadeiro se esconde.
Sorrir ou debochar dos extremos.
Tudo depende do olhar.
E tudo só importa se for com amor,
aos montes.

domingo, 25 de maio de 2008

Amor,
Se você não é o meu amor,
Eu não sei mais de nada.
Então não peça pra eu falar nada
Porque não sei escrever nem dizer mais nada.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Enquanto existe o pudor, Belle Justie se diverte

Belle Justie definitivamente é uma louca, louca varrida, louca de jogar pedra, louca de rasgar dinheiro. E agora ela tá tão louca que anda até lendo bula de remédio.
Belle Justie é despudorada. E disseram que ela é pueril.
Belle Justie não está nem aí pra nada porque Belle Justie é Belle Justie, e igual a Belle Justie só há Belle Justie.

sexta-feira, 21 de março de 2008


Foto: Flávia Rocha
Lógica dos sentidos

(Parte I)

Belle Justie é tudo
não quer mais nada
sonha com nada
lembra de nada
gosta de nada
nada era louco por tudo
tudo se encantava com nada
se importava com nada
desejava nada
nada ficava em paz com tudo
tudo era louca por nada
mas nada brigou com tudo
tudo brigou com nada
porque nada quer tudo
tudo não esquece nada
nada ainda lembra de tudo
tudo e nada não se entendem
mas tudo e nada nasceram no mesmo lugar
nada e tudo se encontraram
nada sentiu tudo
sentiu o prazer de tudo
foi às nuvens com tudo
tudo acreditou em nada
tudo quis ser criança
nada quer ser adulto
nada não pode ver tudo
os planos de nada se desmanchariam com tudo
porque nada entra em choque com tudo
nada não consegue ver tudo
porque nada ia querer possuir tudo
tudo ia fazer cara de tudo
porque tudo é fogo com tudo
tudo pediu desculpa a nada por falar tudo em forma de nada.

(Parte II)
Tudo é quase nada sem nada
nada tem inveja de tudo
não tem mais o sabor de tudo
vive sem a delícia de tudo
tudo foi feliz com nada
nada sabe ser tudo,
menos nada.

(Parte III)
Nada é uma pimenta de nada
gosta do corpo de tudo
da cabeça de tudo
do coração de tudo
tudo tirou tudo por nada
nada brincou com tudo
jorrou tudo em tudo
tudo dormiu em nada
nada olhou pra tudo
tudo chorou pra nada
nada admirou tudo
tudo desmaiou em nada
acordou protegida por nada
olhou pra nada
e pediu mais nada
nada deu mais nada pra tudo
nada sentiu tudo de tudo de novo com tudo
e tudo sentiu tudo de tudo de novo com nada.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Minha amiga intelectual e vencedora de olímpiadas de conhecimentos Camila Rocha, 11 anos. Depois dessa foto, a gente conversou sobre a Sorbonne, a Oxford e doutorados. Ela também me deu dicas de maquiagem, disse que eu sou muito fofinha e que pareço uma criança.


O sentido nunca se fecha.
Fotos: Flávia Rocha (exceto esta última)

segunda-feira, 17 de março de 2008





Praia do Calhau, São Luís-MA, domingo, dia 16 de março de 2008. Foto minha (exceto a primeira que eu sou a protagonista.)

terça-feira, 11 de março de 2008

Vida cor-de-rosa (Carta da Condessa Juliet D'Mond Le Morchê)

Um dia tracei uma vida cor-de-rosa, você estava do meu lado direito, esquerdo, na frente e atrás. E um monte de crianças ao nosso redor. Via os nossos sorrisos no campo. Era um lugar distante, tinha o ar fresco, vista verde, colorida, brincadeiras, vida, nada de mau humor. A gente era forte, você parecia mais jovem, o seu olhar estava mais feliz. Você tinha conseguido fazer tudo para me deixar feliz. Você parecia um menino, cheio de sonhos. E estava com vontade de lutar por cada um deles. Eu estava toda orgulhosa do meu amor. A gente não tinha passado ruim. O passado, o presente e o futuro, tudo era bom. Você rodopiava. Tão menino, tão menino, que eu sentia vontade de chorar de tanta alegria. A gente passaria várias luas-de-mel em grandes metrópoles, em cidades cercadas de rios, de lagos, de mares, de sol, de lua, de barco, de charrete, de pedalinho.

Um dia sonhei com uma vida assim, completamente rosa. Estive acordada por uns dias, e a vida escureceu, estava sem graça, sem sentido, não sabia pra que lado eu dobrava. Foram dias nebulosos. Eu senti frio, medo, medo de sentir saudade, principalmente. Medo de desistir de sonhar. Medo de ficar acordada para o resto da vida. Medo de achar que essa vida aqui é séria mesmo. Medo de achar que tudo isso aqui é pra valer. Medo de lutar pelo que não é importante. Medo de olhar pro lado errado. Medo de ficar calada. Medo de perceber que estou virando mulher. Medo de ter certeza que esse lugar aqui é duro, que as pessoas são duras. Eu escureci. Meus olhos escureceram. Minhas lentes quebraram. Meu bolso quebrou. Até meu copo de peixinhos quebrou. E eu dormi rodeada de cacos.

Mas ontem eu sonhei de novo, e você estava lá, todo arteiro.

domingo, 9 de março de 2008

Bilhetes em jejum

B1

Bên’eê..., você tem inveja da minha barriga, não tem? Então, vem me achar, vem! Quando você me achar, se é que vai me achar, eu vou lhe mostrar uma coisa. Eu tenho mesmo que lhe mostrar uma coisa. Há dias quero lhe mostrar essa coisa. E você nem pode opinar. Quero que você toque, sinta. Olhe e cheire. Se você quiser, pode pintar também.

B2

Meu amor, que tal coisa é essa? Não consigo lhe achar, onde você se meteu? Tô ficando nervoso. E você sabe como eu fico quando eu fico nervoso... Anda logo, vai... Que tal coisa é essa?

Ah, amor, eu tô com sono também. Eu só quero abraçar você. Eu já sei... você quer me enlouquecer, não é mesmo? Tá bem, tá bem, você já está me enlouquecendo... Admito! Agora é só você aparecer. Reaparece, vai!

B3

Bên’eê..., você sabe que eu não vou reaparecer. Não vou, e pronto. Eu só tenho que lhe mostrar uma coisa, é só isso. Você não precisa mais de mim. Aliás, você precisa de mim, sim. Ah, mas o que isso importa agora, a essa hora da madrugada? A verdade é que EU não quero mais precisar de você. Não quero, e pronto. Sei que você deve estar louco a essa hora. Louco de tudo. Tá doido pra me mostrar tudo. Doido pra deixar a cortina da sala aberta. Eu sei que você não se importa com os vizinhos. Você não se importa com nada. Você nunca me dá tempo de fechar a cortina. Sei que é de propósito. Só pra me por no meu lugar. No fundo, quer que eu pense que só você pode me fazer feliz. Mas não aceito mais chantagens. É só com você que eu posso ser feliz? Então eu não quero mais ser feliz. Prefiro a lertagia, o vão, a escuridão. Prefiro sentir medo do trovão. E que trovões chatos! Ontem um deles matou uma vizinha. Ela morava na rua 15. Eu não senti nada, porque eu não sinto mais nada. E o meu olhar, o meu sorriso, o meu cabelo não são mais os mesmos. E minhas lágrimas? A última foi aquela que você enxugou. Você lembra? É claro que lembra, foi naquele dia que você se saciou. Você estava perfeito naquele dia, mas eu não quero falar disso porque eu nem lembro direito de nada. Não quero lembrar de mais nada.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Maria despachada

Brincadeira de meninas

Parece triste, mas a história é engraçada.


Matando saudade da casa abandonada ou subindo por um passado enferrujado









terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Belle Justie e o homem dela

Belle Justie tem a vida mansa
Acorda às 11 horas da madrugada todo dia
O sonho dela era viver no mundo da lua
Só queria ler jornais de outros planetas
Não gasta um vintém com jornais escritos na Terra
Ela também sonha em ser livre
Belle Justie não gosta que incomodem os seus pensamentos
Caso contrário, todas as idéias iriam tinta abaixo
As idéias dela têm cores
Belle Justie adora entrar nos pensamentos alheios
É uma especialista no assunto
ninguém sabe como ela é capaz
mas ela faz divinamente bem
À noite quando ela acorda atordoada
e nota a ausência do homem dela na cama,
ela se despedaça por uns instantes
e rapidamente sai voando até os sonhos dele
ela entra sonolenta e com pressa
nunca pede licença
nunca, nunquinha, ela fez isso
Mas Belle Justie é extremamente educada
só não consegue bater na porta dos sonhos do homem dela
e ele adora sonhar com Belle Justie
mas com ela ele só vive nos sonhos
só nos sonhos e nada mais
Os dois são completamente iguais
e extremamente diferentes
O sorriso dele é único
o dela é um doce
O andar dele é manso
o dela é macio, como quem pede, pede, pede...
O cabelo dele é raríssimo
e Belle Justie vive descabelada
O olhar dele é como pétala no deserto
o dela é como um riacho no sertão
Os dois são definitivamente perfeitos
Belle Justie é fascinada por ele
E ele é alucinado por ela.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Tá perdoado (Maria Rita)
*primeiro texto não originalmente amoraosmontes

defumei o corredor,
perfumei o elevador
pra tirar de vez o mau olhado
a saudade me esquentou
consertei o ventilador
pro teu corpo não ficar suado
nessa onda de calor
eu até peguei uma cor
tô com o corpo todo bronzeado
seja do jeito que for
eu te juro meu amor
se quiser voltar, tá perdoado
fui a pé a salvador
de joelho ao redentor
pra ver nosso amor abençoado
nosso lar se enfeitou
a esperança germinou
ah, tem muita flor
pra todo lado
pra curar a minha dor
procurei um bom doutor
me mandou beijar teu beijo
mais molhado
seja do jeito que for
eu te juro, meu amor,
se quiser voltar, tá perdoado
e se voltar te dou café
preliminar com cafuné
pra deixar teu dia mais gostoso
pode almoçar o que quiser,
e repetir,
te dou colher
faz daquele jeito carinhoso
deixa pintar o entardecer
e o sol brincar de se esconder
tarde e chuva
eu fico mais fogosa
e vai ficando pro jantar
tu vai ver só,
pode esperar
que a noite será maravilhosa

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Meus beijos
eu quero todos os meus beijos de volta
beijo por beijo
não vou deixar pra trás nenhum
exijo de volta cada um
meus beijos ousados, suados, molhados
todos
todos que tocaram seus lábios
todos que perturbaram o seu sono
os beijos quentes de entrada
os suaves de saída
quero todos, um por um
não deixarei nada com você
nenhum
nenhuma lembrança
e não vou deixar barato nenhum dos meus beijos
se você se negar, vou a qualquer lugar lhe denunciar
e não vou gritar
só o meu olhar vai falar
porque quem prova dos meus beijos tem que me amar.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Por que “O Caçador de Pipas” mexeu tanto comigo?

Falo do filme. Não do livro, ainda. Primeiro, na cena mais linda, Hassan (o garoto simples, humilde e amigo – nas verdadeiras concepções destas palavras) parece extremamente comigo. Fiquei orgulhosíssima dele. Ao mesmo tempo, senti uma vontade irracional de agir ao contrário, como nunca antes. Senti uma necessidade incontrolável de revidar. Revidar contra as questões mal resolvidas.

Geralmente, quando tratava de assuntos de amor, ou de amizade, só engrossava os meus músculos da paciência. O meu “eu” paciente estava ficando cada vez mais forte, intocável, inabalável. Ora esse “eu” era matemático, ora astrológico, ora ele sabia até calcular as linhas do tempo.

Este “eu” se sentia extremamente feliz. Até esse “eu” ver o Hassan, naquela cena inesquecível: sentado embaixo de um pé de romã, ele dá a boa nova a Amir que está aprendendo a ler, está começando com histórias para crianças; num olhar perfeitamente amigo, conta que as histórias escritas e contadas por Amir são muito mais divertidas.

Com uma romã na mão, Amir começa:
- O que você faria se eu desse isso na sua cabeça?
- O que você faria?
Amir jogou uma romã no peito de Hassan. A fruta vermelha escorria no corpo.
- Bata em mim! (e acertava outra)
- Revide! Revide! (e mais outra)
- Você é um covarde!

Hassan, numa atitude heróica e demonstrando um caráter indescritivelmente admirável, pega uma das frutas no chão e a esfrega na própria testa. O meu rosto derreteu em lágrimas nessa hora. Hassan não se defende, só ama, só é leal, só perdoa. Os Hassans nunca maltratam ou ofendem seu melhor amigo, mesmo com os vários sinais de fraqueza e covardia dos Amirs.

Hassan não via nenhum sinal ruim em Amir. Amir não tinha defeito. Se tinha, pouco importava. Porque Hassan só sabia amar Amir. Nada mais. E eu deveria ter seguido os passos de Hassan.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Maktub.

Um plano. Um alô. Um calafrio. Uma voz quente. Suave. De mulher. Ele nunca tinha ouvido antes. O que era aquilo? Um terremoto. Uma vontade. Um caldeirão. Imaginação. Curiosidade. Que mulher era aquela? Outro alô. Um desejo. Um encontro. Uma surpresa. Uma tensão. Mais vontade. Dois olhares arquitetônicos. Uma apresentação. Dois sorrisos. Um negócio a tratar. Outra vontade. Uma gentileza. Dois sorvetes! Uma mesa redonda. Um monte de gente invisível ao redor. Dois corações. Negócio fechado! Um convite. Um acordo. Uma carona. Uma conversa. Demorada. Engraçada. Inteligente. De descobrimento. De coincidências. De trocas. De primeira, segunda, terceira... intenções. Um sentimento irresistível. Desejo de desviar o caminho. Entrega, anunciada no pensamento dos dois. Um “obrigada!”. Uma despedida. Mas eles queriam tudo. Pés. Cabeça. Alma. Tudo!

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Luís

Quando criança, eu era branquinha, do nariz afilado e o cabelo curto cheio de cachos dourados. Parecia um anjinho de tão gente boa. Aos 10 anos, me furtaram o primeiro beijo, foi atrás da escola. Senti-me invadida, enganada e tive vontade de denunciar na delegacia mais próxima. Ao mesmo tempo, gostei da iniciativa do menino. Menino danado! Aquilo me fez sorri depois. Guardei o segredo como quem guarda a vontade de quero mais. Na verdade, na hora, fiquei completamente sem graça. Em seguida, desejei correr atrás dele e me vingar. Tascaria outro beijo nele. Dessa vez, na frente de todo mundo, só pra matar ele de vergonha.

Um adulto apareceu segundos depois, e eu tive que conter aquela confusão de sentimentos. Na realidade, fiquei com raiva por dois motivos: um, porque eu gostava de outro menino, o mais danado da escola, ele era uma pestinha, e nos meus sentimentos mais íntimos queria que ele tivesse furtado o meu primeiro beijo; dois, porque fiquei com medo dele saber do furto e não querer mais um beijo meu, nem furtado, nem negociado, nem dado de coração.

Fiquei com medo de me tornar uma menina desinteressante, porque os lábios já tinham sido tocados. Tive medo de perder a atenção do menino mais legal da escola. Ele vivia suado e sujo. A gente adorava brincar de correr um atrás do outro. E eu adorava quando a gente caía junto no capim do campo da escola.

Nós dois disputávamos o título de mais danados do colégio, ele, na categoria masculina e, eu, na feminina. A diferença era que ele não se controlava tempo algum, e, eu, quando entrava na sala de aula me transformava. Não era dissimulação, não. Tinha uma sede angustiante de aprender. Cada vez mais e mais. Além disso, adorava ter o amor das professoras. Não abria mão disso por nada no mundo. Muito por ser leonina, não conseguia respirar sem me suflarem os elogios.

Engraçado que o nome dele era Luís. Eu achava lindo esse nome: Luís. Luís! Bonito, não é?

O tempo passou e eu nunca mais vi o Luís, mas antes dele desaparecer completamente da minha vida, ele me tascou um beijo, naquela parte mais sensível do rosto. O coração, coitado, foi a mil. Mas eu, menina boba, passei a mão direita na boca rapidamente, para ele nem de leve pensar que eu tinha ficado doidinha pelo beijo dele, por mais um, dois, três... quantos ele quisesse dar. Naquela hora, fui embora pra casa. Ele pra dele. E nosso beijo suado nunca mais se encontrou. Era o último dia de aula.

domingo, 13 de janeiro de 2008

Os Homens São de Marte... e é para Lá que Eu Vou

Os homens sempre dão uma empinada na nossa vida. É só saber escolher. Nem que ele não dure mais do que uma semana. Duvida? É só entender a canetada de mestra de Mônica Martelli (já explico quem é. A foto dela está aí em cima). Ela, depois de passar mais de 30 anos rotulada como a fracassada da família, decidiu escrever despretensiosamente sobre suas aventuras amorosas e sexuais. Texto que acabou dando no monólogo “Os Homens São de Marte... e é para Lá que Eu Vou”, uma febre no Rio que agora vai virar filme e já pensam em transformá-la em série de TV.

É só uma tragicomédia simples. Mônica estava solteira na época e teve coragem de dizer o que muita gente esconde nesses tempos modernos: a mulher precisa de um homem para ser feliz. Pode até doer como um chute no que tem debaixo das calçolas das feministas, mas não é nada mais do que uma antiga verdade. Ora, qualquer mulher que tem a feminilidade encravada na pele vai preferir assistir a um filme agarradinha com o seu amor a assistir sozinha. Ou não é? Claro que tem horas que a gente quer ficar só, mas só umas “horinhazinhas”!

E é mais divertida a vida de solteira ou a de compactuada com um amor? Ai, ai, ai... Digo que numa noitada solteira a gente brinca, dança à vontade, fala barbaridades, canta no carro com a amiga mais maluca que a gente tem, dá gargalhadas incontroláveis e, no final, sabe que não vai ter nenhum beijinho. E na manhã seguinte, sabe que vai acordar com o corpo coberto por uma camisola. E não tem nem perigo de levantar sem ela. Só se sofrer de algum distúrbio durante o sono.

E a empinada na vida das mulheres que os homens dão? Um exemplo é da própria Mônica Martelli. Ela cursou Direito e não terminou; concluiu Jornalismo e não vingou como jornalista; participou de várias novelas da Globo e em todas as vezes ninguém ouviu sua voz. Até que conheceu Jerry, quando ele estava em São Paulo produzindo um show do Ed Motta. Mônica pensava que ele era gay. Quando Jerry disse que era hétero ela se apaixonou na hora. Pouco tempo depois, foram morar juntos. Jerry passou a produzir a vida de Mônica. Ele logo botou a mulher para tirar os textos dela do papel para o computador. Digitadas as histórias, depois dos empurrões do marido, Mônica jogou o negócio pra frente e estreou a peça. Fez sucesso e agora, como disse no início, vai virar filme. Hummm... vai uma empinadinha aí? Só se for com pipoca, e pra dois.

Obs.: Não assisti ao monólogo, escrevi esse texto com base em uma reportagem da revista Marie Claire deste mês.

sábado, 12 de janeiro de 2008

Procura-se II

Quem sabe da palavra?
É segredo?
Mas que letras são essas?
É mistério?
Alguém ao menos já ouviu falar?
Queria ser craque no jogo da forca
Alguém conhece um?
Um craque na forca
Eu conheço
Em troca de que ele me revelaria?
Sobre as picuinhas e as histórias apimentadas

Detesto as picuinhas mundanas. Sou extremamente mal educada com elas. Viro as costas e me finjo de morta diante delas. Às vezes, dou gargalhadas pra elas. Depois esqueço e não dou trela nenhuma. Sou uma grande decepção para os inimigos. Eles não têm a menor chance comigo. Só vejo pessoas amigas ou pessoas burras que querem trocar uma amizade por um belo prato de fofocas quentinhas ou requentadas. Para estas pessoas peço desculpa pelo meu mau jeito, mas não consigo deixar de desprezá-las. Passo a régua sem dó, com a maior frieza do mundo.

Consumindo a vida assim, achava que não existiam novelas com a minha pessoa. Pois não é que existem? E várias! Cada qual mais cinematográfica do que a outra. Claro que na minha sala de projeção elas são barradas completamente. Não divulgo nada, nenhum resuminho. Só sinto pena por um instante e depois lembro que a maioria das pessoas ainda não sabe apreciar seus próprios filmes e não consegue viver sem jogar pimenta na história dos outros.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Procura-se

Uma palavra
Uma palavra
Só uma palavra
Eu não acho
A palavra
Mas que palavra é essa?
A palavra
Pra te levar pra casa.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Sobre o amor

Pra mim, o mundo anda maluco e a cada dia acho que não entendo mais nada sobre o amor. E na semana passada, vi dois casais amigos brigarem. Duas amigas sofriam e eu nem me aproximei porque acho que não sei mais de nada, não sei mais dar conselho, não quero mais nem dar nem receber conselhos, pelo menos por enquanto. Acho que o mundo está muito maluco mesmo. E eu estou ficando maluca também. Ora eu quero ficar gostosona, bronzeada, ora eu me acho linda branquinha. Ora eu quero ficar na minha, quetinha.
O certo é que não sei mais o que é certo nem o que é errado. Ora me dizem: - eita, mulher difícil! Já noutras horas sou a mulher mais fácil do mundo (pra uma pessoa só, claro!). Continuando os oras: ora acho que sou independente e sei muito bem viver sozinha, ora sei que sou completamente dependente de um amor ou de uma grande paixão, daquelas ardentes das quais a gente faz tudo, se abre completamente, sorri escancaradamente, daquelas que a gente sente-se totalmente livre e depois uma repleta prisioneira, ou daquelas paixões que a gente sente um prazer intenso até numa curta lembrança.