sexta-feira, 21 de março de 2008


Foto: Flávia Rocha
Lógica dos sentidos

(Parte I)

Belle Justie é tudo
não quer mais nada
sonha com nada
lembra de nada
gosta de nada
nada era louco por tudo
tudo se encantava com nada
se importava com nada
desejava nada
nada ficava em paz com tudo
tudo era louca por nada
mas nada brigou com tudo
tudo brigou com nada
porque nada quer tudo
tudo não esquece nada
nada ainda lembra de tudo
tudo e nada não se entendem
mas tudo e nada nasceram no mesmo lugar
nada e tudo se encontraram
nada sentiu tudo
sentiu o prazer de tudo
foi às nuvens com tudo
tudo acreditou em nada
tudo quis ser criança
nada quer ser adulto
nada não pode ver tudo
os planos de nada se desmanchariam com tudo
porque nada entra em choque com tudo
nada não consegue ver tudo
porque nada ia querer possuir tudo
tudo ia fazer cara de tudo
porque tudo é fogo com tudo
tudo pediu desculpa a nada por falar tudo em forma de nada.

(Parte II)
Tudo é quase nada sem nada
nada tem inveja de tudo
não tem mais o sabor de tudo
vive sem a delícia de tudo
tudo foi feliz com nada
nada sabe ser tudo,
menos nada.

(Parte III)
Nada é uma pimenta de nada
gosta do corpo de tudo
da cabeça de tudo
do coração de tudo
tudo tirou tudo por nada
nada brincou com tudo
jorrou tudo em tudo
tudo dormiu em nada
nada olhou pra tudo
tudo chorou pra nada
nada admirou tudo
tudo desmaiou em nada
acordou protegida por nada
olhou pra nada
e pediu mais nada
nada deu mais nada pra tudo
nada sentiu tudo de tudo de novo com tudo
e tudo sentiu tudo de tudo de novo com nada.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Minha amiga intelectual e vencedora de olímpiadas de conhecimentos Camila Rocha, 11 anos. Depois dessa foto, a gente conversou sobre a Sorbonne, a Oxford e doutorados. Ela também me deu dicas de maquiagem, disse que eu sou muito fofinha e que pareço uma criança.


O sentido nunca se fecha.
Fotos: Flávia Rocha (exceto esta última)

segunda-feira, 17 de março de 2008





Praia do Calhau, São Luís-MA, domingo, dia 16 de março de 2008. Foto minha (exceto a primeira que eu sou a protagonista.)

terça-feira, 11 de março de 2008

Vida cor-de-rosa (Carta da Condessa Juliet D'Mond Le Morchê)

Um dia tracei uma vida cor-de-rosa, você estava do meu lado direito, esquerdo, na frente e atrás. E um monte de crianças ao nosso redor. Via os nossos sorrisos no campo. Era um lugar distante, tinha o ar fresco, vista verde, colorida, brincadeiras, vida, nada de mau humor. A gente era forte, você parecia mais jovem, o seu olhar estava mais feliz. Você tinha conseguido fazer tudo para me deixar feliz. Você parecia um menino, cheio de sonhos. E estava com vontade de lutar por cada um deles. Eu estava toda orgulhosa do meu amor. A gente não tinha passado ruim. O passado, o presente e o futuro, tudo era bom. Você rodopiava. Tão menino, tão menino, que eu sentia vontade de chorar de tanta alegria. A gente passaria várias luas-de-mel em grandes metrópoles, em cidades cercadas de rios, de lagos, de mares, de sol, de lua, de barco, de charrete, de pedalinho.

Um dia sonhei com uma vida assim, completamente rosa. Estive acordada por uns dias, e a vida escureceu, estava sem graça, sem sentido, não sabia pra que lado eu dobrava. Foram dias nebulosos. Eu senti frio, medo, medo de sentir saudade, principalmente. Medo de desistir de sonhar. Medo de ficar acordada para o resto da vida. Medo de achar que essa vida aqui é séria mesmo. Medo de achar que tudo isso aqui é pra valer. Medo de lutar pelo que não é importante. Medo de olhar pro lado errado. Medo de ficar calada. Medo de perceber que estou virando mulher. Medo de ter certeza que esse lugar aqui é duro, que as pessoas são duras. Eu escureci. Meus olhos escureceram. Minhas lentes quebraram. Meu bolso quebrou. Até meu copo de peixinhos quebrou. E eu dormi rodeada de cacos.

Mas ontem eu sonhei de novo, e você estava lá, todo arteiro.

domingo, 9 de março de 2008

Bilhetes em jejum

B1

Bên’eê..., você tem inveja da minha barriga, não tem? Então, vem me achar, vem! Quando você me achar, se é que vai me achar, eu vou lhe mostrar uma coisa. Eu tenho mesmo que lhe mostrar uma coisa. Há dias quero lhe mostrar essa coisa. E você nem pode opinar. Quero que você toque, sinta. Olhe e cheire. Se você quiser, pode pintar também.

B2

Meu amor, que tal coisa é essa? Não consigo lhe achar, onde você se meteu? Tô ficando nervoso. E você sabe como eu fico quando eu fico nervoso... Anda logo, vai... Que tal coisa é essa?

Ah, amor, eu tô com sono também. Eu só quero abraçar você. Eu já sei... você quer me enlouquecer, não é mesmo? Tá bem, tá bem, você já está me enlouquecendo... Admito! Agora é só você aparecer. Reaparece, vai!

B3

Bên’eê..., você sabe que eu não vou reaparecer. Não vou, e pronto. Eu só tenho que lhe mostrar uma coisa, é só isso. Você não precisa mais de mim. Aliás, você precisa de mim, sim. Ah, mas o que isso importa agora, a essa hora da madrugada? A verdade é que EU não quero mais precisar de você. Não quero, e pronto. Sei que você deve estar louco a essa hora. Louco de tudo. Tá doido pra me mostrar tudo. Doido pra deixar a cortina da sala aberta. Eu sei que você não se importa com os vizinhos. Você não se importa com nada. Você nunca me dá tempo de fechar a cortina. Sei que é de propósito. Só pra me por no meu lugar. No fundo, quer que eu pense que só você pode me fazer feliz. Mas não aceito mais chantagens. É só com você que eu posso ser feliz? Então eu não quero mais ser feliz. Prefiro a lertagia, o vão, a escuridão. Prefiro sentir medo do trovão. E que trovões chatos! Ontem um deles matou uma vizinha. Ela morava na rua 15. Eu não senti nada, porque eu não sinto mais nada. E o meu olhar, o meu sorriso, o meu cabelo não são mais os mesmos. E minhas lágrimas? A última foi aquela que você enxugou. Você lembra? É claro que lembra, foi naquele dia que você se saciou. Você estava perfeito naquele dia, mas eu não quero falar disso porque eu nem lembro direito de nada. Não quero lembrar de mais nada.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Maria despachada

Brincadeira de meninas

Parece triste, mas a história é engraçada.


Matando saudade da casa abandonada ou subindo por um passado enferrujado