terça-feira, 23 de outubro de 2007

Eu não lhe contei

Que você nem conheceu a minha avó. Dona Chiquinha tinha os olhos azuis, a pele branquinha, cabelo feito espaguetes, compriiiidos. Ela era um amor de gente. Diziam que eu tinha sido achada numa lata de lixo, mas quando eu vi aquele riso pela primeira vez tive a certeza de que o meu sangue circulava na veia dela. Um sangue simples, de cor vermelha mesmo, um vermelho vivo, de gente que quando nasceu olhou no dicionário o significado de gente, gente que não encontrou o significado da palavra maldade, gente que nem precisava perdoar porque não se sentia ferida por nada, gente que só de olhar não precisava dizer ‘eu te amo’, gente que se escondia feito menina pra ajudar. E eu tinha um namorado que todo mundo dizia que ele era feio, e ela botava a mão no queixo e dizia que ele era lindo. Ele é liiiindo! Minha avó era aquele tipo que não precisava dizer nada pra dar conselhos, bastava olhar pra ela. E hoje depois de tantos anos chorei lembrando dela. Dei a minha vez pra todo mundo, agora é a minha, só minha. E se ela estiver aqui do meu lado agora, ela sabe que eu já dei um monte de tropeços, mas no todo eu só quero ser um pedacinho do bolo doce que ela deixou aqui.

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