sábado, 22 de dezembro de 2007

Camaleoa

Belle Justie acordou, posicionou-se em frente ao espelho e levou um susto. Era um susto que escorria singeleza para todos os lados. Um susto bom, boníssimo. Ela nada mais era que um réptil saurofídeo. Belle Justie mudava de cor, de faces, de sabor, de cheiro, de tudo. Olhar, sorriso, toque. Cruzada de pernas, mordida nos lábios, virada de cabeça, mexido no cabelo, beijo no canto da boca, aceno de mão. Tudo mudava à medida que ela desviava o olhar, ora seco ora molhado. Ora suave, ora ríspido, ora resplandecente, ora puro mistério. Certa hora ela se viu mais bonita. Ela via que de menina virava mulher, e de mulher de repente virava menina, de menina uma criança, de criança um bebê. Em um segundo, Justie se transformava. Aparentava uma velhinha, uma velhinha boaziiiinha, gente boooa... Velhinha atenciosa, respeitada, preocupada, cheia de sabedoria para espalhar por aí, cansada e com vontade de descansar. Velhinha amada, muito amada por um monte de gente. Do nada, Belle Justie voltava a ser uma criancinha, não conhecia nenhum problema, só queria brincar, pular e sorrir. Queria também dançar, cantar, gritar e falar o que desse na telha. Justie se deparou com uma camaleoa e viu no espelho o melhor e mais sem juízo jeito de ser feliz.

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