segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Deixa eu te conduzir...

É assim: primeiro, não precisa olhar pro chão. Feche os olhos, ponha o calcanhar direito na frente do dedão esquerdo, agora, deixe as asas em posição de decolagem. Nesse instante, não sinta medo, estou aqui, bem atrás de você. Agora, acho que já está pronto, bote o calcanhar esquerdo na frente do dedão direito. Vou vendar os seus olhos, pra não precisar se preocupar com eles. Esqueça tudo. Você pode fazer leves movimentos com a cabeça, descendo e subindo o nariz, só pra sentir o aroma da sala. Pode fazer pequenas ondas com a cabeça enquanto respira. Pode até virar pros lados, se quiser. Estou a um centímetro atrás de você. Minhas asas também estão em posição de vôo, mas não posso tocar em nada. Estou sentindo o cheiro da sua entreasas, mas não vou triscar nem a ponta do meu nariz. Agora, vou ficar aqui, parada. Você, bem de leve, vai trocar as pernas. Se der tudo certo nesse passo, pode partir pro seguinte. Sozinho. A cada passo perfeito, o som da minha voz vai se encaixotando...

(zero vírgula um segundo depois)

...O ar está ficando abafado. Não consigo mais ouvir o seu pé descolar do chão. Agora, eu vou dar um giro, bater minhas asas bem de mansinho. Se a gente quiser voltar pra esse lugar, essa sala abarrotada de coisas nossas, acho que você não vai mais se perder no caminho.

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