segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Sonho
(Atenção: quem tem medo não deve ler. E quem começar a ler tem que ler até o final.)

Hoje (14/09/2008), às 23 horas, tive um sonho. Digo: pesadelo. Uma “alma” chegava e dizia: “Você não quer morrer? Então, você vai morrer agoooora!”Aí, outra “alma”, preta e bem grande, aparecia do lado esquerdo da minha cama, como se tivesse colocando alguma coisa dentro do meu coração. Ela (digo: essa alma preta) era meio violenta, ficava meio que dizendo desaforada: “Você vai agoooora e não tem mais jeito!”. Os seus movimentos eram rápidos como quem estava furioso comigo. Eu tentava gritar. Botava todas as minhas forças, explodindo ininterruptos e esperançosos “Mãaaaaaaaaaaae, me ajude... Mãaaaaaaaaaae!!!” Mas a voz não saía, eu percebia que não saía e me desesperava. Porém, eu não tinha desistido de lutar contra a tal alma preta, isso via pensamento porque ela me deixou imobilizada: “Mas você não tem motivo pra me levar. Fui dormir boazinha. Que desculpa vocês vão inventar pra dizer que eu morri?” Assim parece que “ela” desistiu. Saiu. Mas me disse (não sei como porque ninguém falava com a voz): “Pois vou providenciar essa desculpa ‘amanhã’ ou nos ‘próximos dias’”. Ponto final. Acordei apavorada, com a ameaça. Quis ir correndo pro quarto dos meus pais. Aí, um dos meus “eus” perguntou: “E desde quando você tem medo de ‘alma’?” Eu sorri. E virei pra dormir de novo.

Minutos depois...

Lembrei de anotar o sonho. Registrei (como você está vendo). Nesse intervalo veio a intuição de que morrer não é nada bom quando ainda não se é um anjo. Parece que foi um alerta. Sempre intuí que iria para outra vida cedo. Achava ótimo isso porque ia ganhar de presente um tipo de estágio de evolução mais avançado. Mas me pareceu que as coisas não são bem assim. Nesse campo, não há privilegiados. Por isso, me pareceu também que a gente deve ser minucioso em cada detalhe das nossas ações. Valeu o recado
!

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Deixa eu te conduzir...

É assim: primeiro, não precisa olhar pro chão. Feche os olhos, ponha o calcanhar direito na frente do dedão esquerdo, agora, deixe as asas em posição de decolagem. Nesse instante, não sinta medo, estou aqui, bem atrás de você. Agora, acho que já está pronto, bote o calcanhar esquerdo na frente do dedão direito. Vou vendar os seus olhos, pra não precisar se preocupar com eles. Esqueça tudo. Você pode fazer leves movimentos com a cabeça, descendo e subindo o nariz, só pra sentir o aroma da sala. Pode fazer pequenas ondas com a cabeça enquanto respira. Pode até virar pros lados, se quiser. Estou a um centímetro atrás de você. Minhas asas também estão em posição de vôo, mas não posso tocar em nada. Estou sentindo o cheiro da sua entreasas, mas não vou triscar nem a ponta do meu nariz. Agora, vou ficar aqui, parada. Você, bem de leve, vai trocar as pernas. Se der tudo certo nesse passo, pode partir pro seguinte. Sozinho. A cada passo perfeito, o som da minha voz vai se encaixotando...

(zero vírgula um segundo depois)

...O ar está ficando abafado. Não consigo mais ouvir o seu pé descolar do chão. Agora, eu vou dar um giro, bater minhas asas bem de mansinho. Se a gente quiser voltar pra esse lugar, essa sala abarrotada de coisas nossas, acho que você não vai mais se perder no caminho.

domingo, 7 de setembro de 2008

Belle Justie recebeu uma carta

Belle Justie estava na varanda do apartamento, no 18º andar. Acabara de acender o seu primeiro cigarro. Classuda, vestia camisola de seda vermelha. Despercebida, distribuía charme pro vento. O interfone tocou. Ela pediu que subissem com o envelope.

“Belle, meu amor, sinto daqui que ainda és minha. Sinto teu cabelo aveludado. O teu perfume me inebria. Meu olhar fica em fúria, desesperado sem o teu toque. Tremo até a alma por ti. Meu corpo encurva no travesseiro à procura do teu tudo. Fecho os olhos e me arrepio na lembrança dos pêlos dourados tocando de leve meu peito molhado de desejo por ti.

Meus lábios não são mais os mesmos, estão secos, feridos, brigam com os dentes, recordando do teu sopro quente. Devoro-te com as nuvens do teu cheiro, do teu gosto, do teu jeito.

Abandonaste-me tão cedo... Agora, te imploro, desesperadamente, por mais uma vez. Se não doer, peço, humildemente, na postura de servo que sou, para perdoar os meus erros e olhar-me como na primeira vez.

Querida, Belle, te suplico, piedade desse homem arrebatado de loucura por ti. Ajoelharei-me aos teus pés, depois farás tudo que quiseres de mim.”

*Belle Justie é uma personagem criada por mim, Flávia Rocha. Ela é uma espécie de mulher rara na face da Terra.