terça-feira, 11 de março de 2008

Vida cor-de-rosa (Carta da Condessa Juliet D'Mond Le Morchê)

Um dia tracei uma vida cor-de-rosa, você estava do meu lado direito, esquerdo, na frente e atrás. E um monte de crianças ao nosso redor. Via os nossos sorrisos no campo. Era um lugar distante, tinha o ar fresco, vista verde, colorida, brincadeiras, vida, nada de mau humor. A gente era forte, você parecia mais jovem, o seu olhar estava mais feliz. Você tinha conseguido fazer tudo para me deixar feliz. Você parecia um menino, cheio de sonhos. E estava com vontade de lutar por cada um deles. Eu estava toda orgulhosa do meu amor. A gente não tinha passado ruim. O passado, o presente e o futuro, tudo era bom. Você rodopiava. Tão menino, tão menino, que eu sentia vontade de chorar de tanta alegria. A gente passaria várias luas-de-mel em grandes metrópoles, em cidades cercadas de rios, de lagos, de mares, de sol, de lua, de barco, de charrete, de pedalinho.

Um dia sonhei com uma vida assim, completamente rosa. Estive acordada por uns dias, e a vida escureceu, estava sem graça, sem sentido, não sabia pra que lado eu dobrava. Foram dias nebulosos. Eu senti frio, medo, medo de sentir saudade, principalmente. Medo de desistir de sonhar. Medo de ficar acordada para o resto da vida. Medo de achar que essa vida aqui é séria mesmo. Medo de achar que tudo isso aqui é pra valer. Medo de lutar pelo que não é importante. Medo de olhar pro lado errado. Medo de ficar calada. Medo de perceber que estou virando mulher. Medo de ter certeza que esse lugar aqui é duro, que as pessoas são duras. Eu escureci. Meus olhos escureceram. Minhas lentes quebraram. Meu bolso quebrou. Até meu copo de peixinhos quebrou. E eu dormi rodeada de cacos.

Mas ontem eu sonhei de novo, e você estava lá, todo arteiro.

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