quarta-feira, 1 de abril de 2009

Vire a folha de cabeça pra baixo

No final do mês era aquela correria pro mural pregado no pátio da escola. Era em Petrópolis, no Rio. João* e Ricardo*, melhores amigos da adolescência, corriam ansiosos para saber suas notas, queriam saber quais eram os nomes no fim da lista. É que os dois revezavam esses espaços, de último e penúltimo, todos os meses. Sabe como é que é, né?

João e Ricardo eram os “piores” alunos da turma. Não em virtudes, dedicação ou inteligência. Sim em notas, em números. Eram dois zeros, bem à esquerda. Os dois encaravam essa repetição mensal de uma forma surpreendente: sorrindo e brincando com a “sorte” do outro. Não porque eram descompromissados. Sim porque tinham uma certeza: um dia a folha ia virar de "cabeça pra baixo". E pouco importava aqueles números míseros naquele momento... Melhor, importava sim. Porque ali ficava uma grande recordação.

Os dois eram diferentes. E tem coisa mais valiosa no mundo que ser diferente? Hummm... Acho que não. Os iguais se copiam, não arriscam inovar, morrem de medo de um aparente fracasso. Já os diferentes adoram testar o erro, centenas de vezes, até chegar a uma solução genial. Os iguais não conseguem reconhecer alguém de propósito bem à sua frente. Os diferentes são superiores. Eles riem. Morrem de rir quando alguém acha que eles tropeçaram. E se você não se imagina achando graça disso, ainda tem que se esforçar pra ser diferente.

E, depois de tanto ranking na escola, como andam hoje João e Ricardo? Bem... Ricardo se formou em Medicina pela UFRJ, é ginecologista e casado com uma médica filha de um milionário. Quando Ricardo tem alguma má recordação, tipo do seu tempo de zero à esquerda, ele "pega" a mulher, um dos aviões da família e vai dar uma volta em algum paraíso por aí no mundo. Já João se formou em Jornalismo pela UFRJ, fez Mestrado, Doutorado e hoje é professor e coordenador do curso de Comunicação de uma faculdade do Sul do país. João também tem uma produtora de filmes e trabalha com formação de atores. Seus filmes ganharam vários prêmios. João ganhou reconhecimento nacional e internacional.

Então, cê quer um palpite? Numa lista, independente onde seu nome estiver, revire-o, remexa-o e veja que ele estará sempre lá, lá no alto. Bem no topinho.

Sei. Cê acredita que o importante são as normas técnicas, a física, o pá-pum palpável bem na sua frente? Se eu acredito também? Sim, sim, sim... Só que antes, enquanto a gente puder, a gente vai provando o contrário, às avessas, sem a preocupação de um sim fácil, de gente sem graça, sabe?
*Os nomes são fictícios. A história é real.

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